Finalmente o trio fora reunido. Desta
vez não foi o idioma o responsável pela dificuldade da abdução, afinal, todos
os homenageados falavam inglês, que mesmo sendo um língua praticamente morta,
era simples e fácil de utilizar. Convencer Einstein de que ele daria um passeio
no futuro também foi fácil. Complicado mesmo foi driblar a inteligência
americana, que o vigiava atentamente. A experiência foi válida e, graças a ela,
foi incorporado ao protocolo de abdução a recomendação de se evitar o resgate
de pessoas em época de grande conflito.
De volta ao presente, passaram alguns minutos dentro da sala de adaptação sensorial para que não sentissem os efeitos colaterais da viagem. Isaac Asimov era o mais animado. Nem tanto por Albert Einstein, pois já vira numa palestra certa vez, mas sim por H.G. Wells, do qual era fã de seus romances e que jamais conheceria pessoalmente caso não fosse a situação.
De volta ao presente, passaram alguns minutos dentro da sala de adaptação sensorial para que não sentissem os efeitos colaterais da viagem. Isaac Asimov era o mais animado. Nem tanto por Albert Einstein, pois já vira numa palestra certa vez, mas sim por H.G. Wells, do qual era fã de seus romances e que jamais conheceria pessoalmente caso não fosse a situação.
Todos receberam o tradutor auricular e
foram encaminhados a uma sala onde aguardariam o organizador do evento que lhes
passaria maiores informações. Durante o percurso ficaram boquiabertos com os
objetos e aparelhos que viam, ao mesmo tempo que tentavam imaginar o que eram e
para quê serviam.
Já na sala, cada um sentou-se em uma
confortável poltrona defronte a uma mesa. As paredes eram todas brancas. Não
havia janela. Além disso, a porta desaparecera. O guia que lhes acompanhava
apertou um dos vários botões da mesa e de repete o clima da sala ficou
extremamente agradável e as paredes começaram a exibir vídeos de diversos
momentos históricos. Todos ficaram ainda mais estupefatos, mas somente Wells
tentou esconder suas emoções:
- É... Realmente, tudo muito lindo,
tecnológico... Mas que ano estamos mesmo? 2978? E robôs? Cadê os robôs? Ainda
não vi nenhum!
- Sim, senhor. Estamos em 2978. -
respondeu o guia - E há muitos robôs aqui no complexo. Eu mesmo sou um deles.
Para quebrar o silêncio provocado pelo
choque da revelação, além de validá-la, o guia retirou o olho direito com as
mãos. Apontou a órbita ocular para trio e pediu:
- Olhem por aqui. Dá pra ver
perfeitamente parte de meu hardware.
- Não é que é verdade mesmo? - disse
Einstein, o primeiro que teve coragem de olhar.
- Meu Deus! - exclamou Wells. - Sua
aparência é tão humana quanto a minha!
- Mas e essa pele? Cabelo? Como
conseguiram unir máquina com material orgânico? - questionou Asimov, depois de
apalpar o robô.
- Sou uma estrutura bem simples,
basicamente composta de complexo de silicone, órgãos sintéticos e biofluído
não-condutor, tudo isso controlado por nanotecnologia. Ainda dou conta do serviço,
mas em breve serei substituído por protótipos mais avançados. - explicou o
guia, recolocando o olho - Os senhores gostariam de mais alguma coisa?
Após constatar que estavam devidamente
instalados, o guia despediu-se e saiu, deixando-os a sós. Einstein foi quem
quebrou o silêncio:
- Impressionante! Não é mesmo, senhores?
- Sim, é! Nem nos meus maiores devaneios
pensei em algo assim! - respondeu Asimov.
- Eu tinha razão! Eu tinha razão! -
exclamava Hells - Riam de mim, mas eu tinha razão! A máquina existe!
- Sim, existe! - respondeu um homem,
adentrando a sala - Existe e graças a ela os senhores estão hoje aqui! Meu nome
é Ranzor Shaw IX e sou o organizador desta 100ª ExpoPassado.
Razor era bastante alto, a ponto de ter
que se encurvar para abraçar os convidados, que recebiam
o afetuoso cumprimento sem saberem o que dizer ou fazer. Careca e bastante
pálido, vestia um estranho terno preto, do qual, de vez em quando, brilhavam
algumas luzes.
- Você também é um robô? - quis saber
Asimov.
- Não, não sou não. - respondeu Razor,
rindo.
- O que vem a ser essa ExpoPassado? -
indagou Einstein.
- Esse é o grande Einstein! Sempre
direto ao ponto! - vibrou Razor - Pois bem, senhores. A ExpoPassado é um evento
anual onde grandes personalidades do passado são trazidas para este presente a
fim de serem homenageadas. Autores, filósofos, atores, políticos, atletas...
Enfim, todos
aqueles que foram muito importantes para a humanidade são
lembrados aqui. Nesse ano, por ser o centésimo aniversário do evento, decidimos
trazer os senhores, grandes visionários que contribuíram para muitas das coisas
que temos hoje.
- Então é graças a mim que no
futuro..quer dizer, nesse presente, exista robôs parecidos com seres humanos? -
perguntou Asimov, com brilho no olhar.
- E que graças a mim estamos aqui? Eu
disse que a máquina do tempo era possível! Eu disse! - gabou-se Hells.
- Sim, senhores. Podemos considerar que
sim. - respondeu Razor, matando a curiosidade da dupla de autores.
- E minhas teorias contribuíram para que
a humanidade pudesse viajar no tempo, mais precisamente, ir para o futuro? É
isso? - arriscou Einstein.
- Humm... Na verdade não, professor. -
disse Razor, levantando-se e dando ares de que sua resposta seria dura. - O
futuro, diferente do passado, é algo insubistâncial, ainda inexistente, sendo apenas
um gigantesco complexo de infinitas combinações de possibilidades. Não tem como
ir para algo que ainda não exista. Podemos ir em qualquer época e local do
passado e voltar novamente para o nosso presente. Mas nunca para o futuro.
Simplificando, seria isso.
- Eu estava errado?! Não posso
acreditar... Mas bem, que foi que fiz de tão importante então? - perguntou
novamente o agora decepcionado Einstein.
- Bem, professor, muitas coisas...Muitas
coisas... - desconversou Razor, tentando animar o agora frustrado gênio.
- Mas então, Sr. Razor... Como será a
cerimônia? O que teremos que fazer? - indagou Asimov.
- Será bem simples, senhores. Vocês
esperarão aqui e no momento certo serão levados até um palco, onde ficarão
diante de uma platéia de cerca de 10 mil convidados, composto de pessoas
importantes do mundo todo. O evento também será transmitido para todo o
planeta. Num telão passará toda a biografia dos senhores. Receberão presentes,
condecorações, serão cumprimentados pelo nosso imperador e depois poderão fazer
um breve discurso. Terminado o evento, eu os levo de volta para seus
respectivos tempos. Tudo bem, senhores?
- Que batuta! - comemorou Hells.
- Discurso? Mas os presentes entendem
inglês? Posso falar em russo, mas acho que seria menos compreendido. -
preocupou-se Asimov.
- Tens razão, Isaac. E que negócio é
esse de imperador? Não estamos nos Estados Unidos? - perguntou Einstein.
- Calma, senhores. Na verdade o inglês
já quase não é falado. A maioria dos convidados falam o euroasionês, mas
poderão lhes entender graças a esse fone tradutor que estão utilizando. Muito bacana isso, não
é mesmo?
As três celebridades fecharam a cara e começaram
a se entreolhar, extremamente pensativos. George Hells foi quem quebrou o
silêncio e ameaçou:
- Escute aqui, Sr. Razor. Creio que está
mentido para nós ou nos escondendo algo importante. Pare de nos enganar ou
iremos embora! Que droga de idioma é esse? Onde estamos?
- É o idioma falado em nossa
confederação, a Euroásia. - respondeu Razor, assustado com a reação do trio.
- Então os Estados Unidos já não é a
nação mais importante da Terra? – formulou Asimov.
- O Estados Unidos não existe mais, senhores.
Foi destruído na 4º Guerra Mundial. - disse o anfitrião, fazendo cara de penar.
Asimov e Hells ficaram boquiabertos.
Einstein, patriota reconhecido, não segurou as lágrimas. Questionou aos gritos:
- Porque vocês fizeram, meu Deus! O que
nós lhe fizemos para causar-lhes tanto ódio e inveja?
- Calma lá, Sr. Einstein! - defendeu- se
Razor. - Quem destruiu os Estados Unidos, bem como tomou posse de toda a
América, foi a Bolívia. Lembra-se dela? Hoje é a maior potência mundial, seja
nos esportes, na economia, educação... Atualmente estamos em paz com eles,
graças a Deus! Mas, com algum esforço, chegaremos no mesmo nível. Tenho fé
nisso!
- Bolívia? Aquele país de merda? - riu
Asimov. - Conte-nos outra! Na minha época, mal aparecia no mapa-múndi!
- Pois é, senhores... Mas depois de 2362,
ninguém tem tanta bomba-atômica quanto eles! Tampouco, não há quem domine tão
bem essa tecnologia. Os Estados Unidos desacreditou...Deu no que deu!
- Bomba o quê?! - questionou Einstein aos
gritos. – Quer dizer que... Minhas teorias?! Mas... Oh, meu Deus! Me prometeram
tanto!
Com o
olhar um tanto quanto triste, Razor apenas balançou a cabeça positivamente.
Porém, lembrando-se repentinamente do evento, esboçou um sorriso e tranquilizou
o homenageado:
- Mas
pode ficar sossegado, Sr. Einstein. Esqueça isso. Está aqui por outras
contribuições! Preciso conferir se está tudo certo. Bem...Tenham uma boa
estadia e aproveitem o evento. Em breve alguém virá chamá-los. Foi uma honra
poder conversar com os senhores. Até daqui a pouco.
E saiu,
deixando o trio a sós.