O Poder de Persuasão de Um Discurso, Analisado Nas Obras "O Sermão da Sexagésima", de Padre Antônio Vieira e "O Anticristo", de Friedrich Nietzsche

O PODER DE PERSUASÃO DE UM DISCURSO, ANALISADO NAS OBRAS O SERMÃO DA SEXAGÉSIMA, DE PADRE ANTÔNIO VIEIRA, E O ANTICRISTO, DE FRIEDRICH NIETZSCHE


INTRODUÇÃO

O domínio da palavra sempre foi um fator preponderante que o homem, quanto um ser social, deve possuir para que detenha poder. Saber organizá-las para que juntas formem um bom discurso, poderá conferir a tal pessoa status de grande influência, como líder, conselheiro, entre outros, já que ele consegue expor suas ideias ao mesmo tempo que as credita valor de verdade.
            Tanto Nietzsche (1844-1900) quanto Padre Antônio Vieira (1608-1697), com suas obras de maior destaque, há tempos influenciam seus leitores. Quem lê O Anticristo (1895) ou O Sermão da Sexagésima (1655) tem, no mínimo, seus valores questionados. Algumas vezes, tal leitura pode até gerar uma mudança de ideologia e/ou comportamento.
            Como e por que isso acontece? Por que as pessoas, ao se depararem com um texto tendem a acreditar em tudo o que ele diz pelo simples fato dele estar bem articulado? Com base nas teorias relevantes a discurso de Michael Foucault e de René Descartes, tentar-se-á responder essas perguntas e entender esse fenômeno.


OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo comparar as obras literárias Sermão da Sexagésima, escrito por Padre Antônio Vieira e O Anticristo, de Friedrich Nietzsche, com o intuito de identificar os fatores responsáveis por conferir a determinados discursos o valor de verdade incontestável.
Descobrir como esses elementos conseguem persuadir seus leitores a transformarem seus valores, ideologias e conceitos, cultural e socialmente estabelecidos.



PROBLEMA DE PESQUISA

Até que ponto um texto bem articulado, temática e estruturalmente, pode convencer pessoas sobre seu conteúdo, de modo que seja possível até fazê-las mudar de ideologia?


HIPÓTESE

Textos com essa capacidade de persuasão, além de possuírem recursos literários próprios para essa finalidade, são disponibilizados em uma sequência lógica de ideias que confrontam ideologicamente o leitor, influenciando intencionalmente seu raciocino e interpretação.


METODOLOGIA

Abordagem qualitativa, a partir de levantamento bibliográfico, comparação de textos literários e análise de textos sob a óptica da A.D de Foucault(¹).
Como método secundário, buscar-se-á a pesquisa histórica contextual das obras em questão.


CONTEXTO HISTÓRICO DAS OBRAS

Um dos fatores mais considerados à compreensão de uma obra literária é entender o momento histórico vivenciado por seu respectivo autor para analisar o quanto esse fator o influenciou na formulação das ideologias apresentadas nos textos. Tanto Alemanha quanto Portugal, países de origem dos autores aqui estudados.
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(¹) A.D é usado para se referir à análise de discurso.

Tanto Alemanha quanto Portugal, países de origem dos autores aqui estudados, passavam por grandes transformações políticas e mudanças de valores sociais que influenciaram notoriamente os títulos O Anticristo e O Sermão da Sexagésima. O primeiro foi escrito por Friedrich Nietzsche em 1888, ano politicamente bastante conturbado na Alemanha.
Com a implantação do Segundo Reich, mesmo com todo o autoritarismo com que era regido, o país cresceu notavelmente, superando a Inglaterra e tornando-se a maior potência européia. Porém, as consequências desse crescimento, bem como algumas exigências feitas pelo império alemão, entre elas uma nova divisão colonial do continente africano e asiático, culminaram na Primeira Guerra Mundial.
            Dentre os acontecimentos ocorridos na Alemanha durante esse período, o que possivelmente mais tenha contribuído ideologicamente para a produção do O Anticristo foi o Kulturkampf, ou Luta Pela Cultura. Esse movimento foi iniciado em 1872 pelo então chanceler alemão Otto Von Bismarck que, mediante leis e decretos implantados, visou e conseguiu eliminar toda a influência que Igreja Católica detinha sobre o país, principalmente nas questões públicas. Expulsou a Companhia de Jesus, fez com que o Estado passasse a controlar todos os seminários católicos e também nomeasse bispos e padres, restringiu o exercício eclesiástico somente aos cidadãos alemães, o que fez com que muitos religiosos mudassem de país.
            O socialismo começou a crescer na Alemanha e, com a união do Centro Católico com o partido Social-Democrátas que se opunha ao governo, aos poucos as leis ofensivas ao clero foram sendo revogadas e entrando em desuso. Por volta de 1886, a Igreja Católica voltou a ter influência e posição de destaque nos assuntos que envolviam o império. Entretanto, muitos creditaram o crescimento econômico do país como um dos efeitos causados pelo Kulturkampf.
            Por sua vez, Portugal, no século XVII, também enfrentava uma série de problemas, principalmente de ordem econômica. Tentando se manter por meio da exploração de suas colônias, o país se viu obrigado a defender por meio bélico os territórios conquistados contra outros países que queriam usufruir, pirateando as riquezas nacionais, como madeira, ouro e demais minérios. Para isso, teve que adquirir armamento, principalmente da Inglaterra, aumentando ainda mais sua dívida financeira e de favores diplomáticos.
            A Igreja Católica detinha o maior poder e influência da época. A Santa Inquisição atuava plenamente e garantia a manutenção dessa condição. Era forte em toda a Europa, porém, em Portugal encontrava sua maior legião de seguidores e fanáticos. Todas as colônias lusitanas, inclusive o Brasil, receberam visitações da Inquisição. Uma de suas maiores imposições era a necessidade de conversão ao cristianismo por parte dos índios e dos negros, o que provavelmente contribuiu ideologicamente em algumas obras do Padre Vieira.


CRÍTICA LITERÁRIA DOS AUTORES E OBRAS

O Sermão da Sexagésima – Padre Antônio Vieira

Considerado como um dos maiores autores barrocos, Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa no ano de 1608, mas passou grande parte de sua vida no Brasil. Na Bahia, estudou no Colégio dos Jesuítas e, desde cedo, mostrou possuir um grande talento como orador e latinista, sendo incumbido por esse motivo de ensinar os noviços de Olinda. Ordenado em 1634, firmou-se como reconhecido pregador.
            Desejava piamente a manutenção de um império luso e firmado no catolicismo, respeitado por todos, inclusive a nobreza e o clero. Porém, como a realidade era outra, muitas de suas obras foram consideradas heréticas. Foi perseguido pela Inquisição, que conseguiu tirar-lhe o uso da palavra em Portugal.
            Grande utilizador dos recursos conceptistas(²), é tido como um orador bastante complexo, entretanto brando, que conseguiu alcançar e convencer uma grande quantidade de leitores.


De Viera ficou o testemunho de um arquiteto incansável de sonhos e de um orador complexo e sutil, mais conceptista do que cultista, amante de provas até o sofisma, eloquente a retórica, mas assim mesmo, ou por isso mesmo, estupendo artista da palavra. (BOSI, 1936, p.45)

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(²) Recursos Conceptistas – recursos provenientes do Conceptismo, que é um corrente literária característica do Barroco marcada pelo jogo de conceitos, onde é construído um raciocínio lógico, racionalista, com retórica aprimorada.

Uma das maiores críticas que lhe é feita é relativa à sua aparente insensibilidade ao sofrimento dos escravos negros e indígenas. Muitos dos seus textos justificam a escravidão com motivos religiosos, afirmando que, o martírio que passavam era equivalente ao sofrido por  Jesus, e que, quando morressem, seriam recompensados no Paraíso.
O Sermão da Sexagésima, sua mais notória obra, é essencialmente formulada em moldes conceptistas. É extraída da passagem bíblica localizada no Evangelho Segundo São Lucas, na passagem da Parábola do Semeador. Nele, Vieira critica o estilo de pregação de outros pregadores, utilizando a própria Bíblia para fazê-los perceber por si só que distorciam a palavra de Deus a seu favor, tendo em vista que esse sermão foi pregado na Capela Real de Lisboa para católicos da nobreza portuguesa da época.
            Altamente persuasivo, o texto segue, à risca, o método que Vieira utilizava em seus sermões, que consistia em definir a matéria, dividi-la, confirmá-la com a Bíblia e com a razão, amplificá-la com exemplos e, finalmente, persuadir e exortar. Repleta também de elementos retóricos, permitiu à obra manter-se como um pensamento válido, mesmo tendo séculos de idade.
            Por tudo isso, é possível creditar ao Sermão da Sexagésima como uma das obras literárias mais persuasivas em língua portuguesa, que instiga em seus leitores o sentimento de praticar o cristianismo de uma forma mais efetiva.

O Anticristo – Friedrich Nietzsche

            Nascido em 1844, em Rocken, uma pequena cidade da Alemanha, Friedrich Wilhelm Nietzsche era membro de uma família extremamente religiosa e que tanto os pais quanto os avós eram pastores protestantes. Para manter a tradição familiar, cursou no ano de 1864 dois semestres de teologia na Universidade de Bonn, mas desistiu. No ano seguinte, passou a estudar filosofia na Universidade de Leipzig.
            Torna-se admirador do filósofo Arthur Schopenhauser e dos compositores Richard Wagner. Porém, em suas primeiras obras denominadas O Nascimento da Tragédia e Considerações Extemporâneas, já começa a criticá-los. Com a publicação de Humano, Demasiado Humano, Nietzsche conquista sua independência como pensador e, a partir de então, seus escritos são marcados por uma postura que visa questionar os valores fundamentais de uma sociedade cristã.            É considerado como um dos maiores pensadores opositores ao cristianismo. Entende que tal religião não fez mais do que caluniar e rebaixar este mundo ao mudar o foco do centro da vida para o “além”. Com esses valores, negadores da vida e do mundo, Nietzsche faz uma oposição com o pensamento do eterno retorno, que é sua fórmula máxima de afirmação da vida e do aquém.
            Em O Anticristo, obra sua de crítica mais agressiva tanto ao cristianismo quanto a outros pensadores, tem na origem de seu nome em alemão (Der Antichrist) um sentido ambíguo, podendo significar “O Anticristo” ou “O Anti-Cristão”. Não atendo-se a figura bíblica do livro de “Apocalipse”, tampouco uma crítica direta à figura de Jesus Cristo, a obra tem como foco maldizer a religião cristã, mostrando, com passagens do evangelho, que ela sofreu em sua essência deturpações provindas do apóstolo Paulo. Nem Lutero escapa de suas observações, ao afirmar que ele, tendo feito o que fez, contribuiu para a decadência do povo alemão.
            Há diversas comparações entre o cristianismo e outras religiões, como o budismo, por exemplo, bem como entre a Bíblia e outros textos sagrados, entre eles, o Código de Manu. Em ambas situações, evidentemente, o que provem da religião ocidental é considerado inferior. Porém, fazer uma leitura da obra e entender que o objetivo do autor é pregar algo como o ateísmo é um dos maiores erros cometidos por seus leitores. A intenção do filósofo foi propor uma “transmutação” de todos os valores estabelecidos pelas religiões no decorrer de dois mil anos e seguidos a risca, sem nenhum questionamento mais profundo sobre suas origens.
            Portanto, uma leitura significativa da obra como prática social, vinculada com seu entendimento mediante a intenção do autor, poderá gerar em seus leitores um sentimento de repúdio ao cristianismo, bem como subsídios que o justifique.


O PODER DE PERSUASÃO DO DISCURSO IDENTIFICADO E ANALISADO NAS OBRAS

Dado o contexto histórico em que foram produzidas, assim como pela genialidade de seus autores, as obras O Anticristo e O Sermão da Sexagésima possuem um grande poder de persuasão para os fins a qual se remetem. Leitores que já tenham certa afinidade com os temas nelas abordados, ou que sejam inexperientes, dados á leituras mais simplórias, facilmente aderirão a essas ideias, creditando à elas valor de extrema verdade.
Deixando de lado os recursos típicos de cada um dos referidos textos que têm como função convencer, tais quais os métodos conceptistas do sermão e do uso de trechos da própria Bíblia para desacreditá-la, encontrados em O Anticristo, estruturalmente, ambos são perfeitos e dignos de credibilidade, dado o título e respeito social que seus autores possuíam quando os formularam. Essa última característica, por si só, já é um dos princípios de aceitabilidade de um discurso, presentes nos estudos realizados Michael Foucault.
            Tanto o Padre Antônio Vieira quanto Friedrich Nietzsche estavam “aptos” a proferirem seus discursos pois seguiam as três exigências necessárias ao sujeito discursista. A primeira delas é a regra de Ritual, que consiste na qualificação daquele que profere. Vieira por ser padre e um grande pregador e Nietzsche por ser filólogo, um filósofo influente e também ter vindo de uma família de líderes cristãos, tinham total competência e domínio sobre o assunto que abordavam.
            A segunda regra, bastante pertinente ao incrível número de adeptos que os referidos títulos atingiram, é quanto a Doutrina. Tal medida baseia-se na difusão do discurso, visando atingir um número maior de pessoas, fazendo com que elas compartilhem uma mesma ideia e, principalmente, passem a rejeitar as demais. Os dois autores, em momento algum, tencionaram selecionar seus leitores, e, pelo contrário, buscavam cada vez mais simpatizantes de suas causas.
            Finalmente, a regra da Sociedade de Discurso. Segundo Foucault, uma sociedade pode e deve produzir seus discursos, porém, os indivíduos que o fazem devem ser limitados e, ao fazê-los, precisam seguir um conjunto de regras pré-estabelecidas, inclusive para distribuí-los. O simples fato das obras e as ideias que nelas estão contidas terem sido criadas por um único autor, por mais que as tenham formulado baseados em estudos de outras pessoas, já dotam o texto com um peso de verdade maior do que se tivessem sido produzidas por um grupo.
            Utilizando-se outro viés, pode-se afirmar que as referidas obras agem com grande influência sobre seus leitores devido ao fato deles serem adeptos ou tenderem positivamente aos assuntos que elas abordam. Caso as analisassem de uma forma mais precisa, por meio do método simples, porém eficaz, de René Descartes, por exemplo, teriam melhores condições de criarem uma perspectiva mais pessoal sobre as ideias apresentadas, decidindo, por eles mesmos, o que é verdade ou não.
            Segundo Descartes, ao se comparar com uma informação, a pessoa deve analisá-la utilizando-se das três operações elementares da mente humana, denominadas de indução, dedução e enumeração. Assim sendo, o leitor, em primeiro lugar, precisa receber a informação de forma imparcial e examiná-la de forma racional, aceitando somente o que é indubitável. Em seguida, dividir a informação em quantas partes forem necessários para facilitar sua compreensão. Após isso, deve-se elaborar conclusões abrangentes e ordenadas a partir de objetos mais simples e fáceis até objetos mais complicados e difíceis. Finalmente, para não haver erro e omissão de nenhum dado, enumerar e revisar detalhadamente todas as conclusões obtidas.
            Se esse procedimento fosse de comum prática entre todos os leitores, tanto O Sermão da Sexagésima e O Anticristo, quanto qualquer texto contendo discursos mais elaborados, não teriam um poder tão grande de persuasão como na realidade o têm.


COMPARAÇÃO DA TEMÁTICA ABORDADA ENTRE AS OBRAS

Após a análise dos textos, baseando-se nos estudos de Michael Foucault e René Descartes, bem como o levantamento do contexto histórico social em que ambos foram produzidos, é possível uma comparação entre eles. Mesmo pertencendo a épocas e lugares diferentes, tanto o Sermão da Sexagésima quanto O Anticristo ainda hoje são referências para os fins que lhes cabem, servindo como grandes ferramentas de influência.
Quanto à estrutura física, as duas obras são decorridas em prosa, porém, pertencentes a gêneros distintos. Sendo um discurso oral e de fácil compreensão, o Sermão foi criado para ser proferido, entretanto, mesmo escrito, consegue o efeito pretendido. Já Nietzsche utilizou-se de uma prosa bem mais detalhada e complexa, típica de um estudo filosófico e científico. Sendo assim, atinge uma quantidade inferior de leitores, o que por si só atua como um elemento de persuasão, pois, em várias partes do texto há menções de que só as pessoas inteligentes, cultas e de bom raciocínio poderão compreendê-lo.

Este livro se destina a pouquíssimos. Talvez ainda não viva nenhum deles. Quem sabe sejam os que compreendem meu Zaratustra: como eu poderia me confundir com aqueles a quem já hoje se dá ouvidos? – Só o depois de amanhã me pertence. Alguns nascem póstumos. As condições para me compreender, e então compreender necessariamente, eu as conheço muito bem. É preciso ser íntegro até a dureza nas questões de espírito para tão somente suportar minha seriedade, minha paixão. (NIETZSCHE, 1895, p. 11)


Dentre as comparações possíveis, a que é mais contraditória entre elas é o fato de ambos os discursos terem caráter de exortação, todavia, para coisas totalmente opostas. Enquanto Vieira tentou, por intermédio de parábolas bíblicas, fazer com que os cristãos, tanto pessoas mais simples quanto líderes católicos, realmente seguissem os mandamentos sagrados, principalmente em relação á ajuda ao próximo e a proliferação da doutrina, séculos mais tarde, Nietzsche condenou tudo isso, chamando tal tipo de comportamento de tolice. Defendia que a maioria dos problemas enfrentados pelo mundo provinham da fé católica e que o homem estava tornando-se decadente por seguir tais preceitos.
Outra diferença bastante notória entre eles é relativa ao grau de rejeição recebido por parte da sociedade, principalmente por aqueles que os conheceram por meio de comentários. O Sermão, mesmo sendo uma crítica àqueles que usam o conhecimento e o poder oferecidos pela Igreja Católica em seu favor para subjugar os mais fracos, por tratar-se de um discurso em prol da propagação do cristianismo, tem por esse fator, ainda mais na época em que foi escrito, a “proteção” e autorização de existência dada por Deus.


Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de media a semeadura e hão-lhe de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare.(VIEIRA, 1655, p. 08)

O que já não acontece com O Anticristo. Sendo uma obra que ataca diretamente a religião predominante no ocidente, antes mesmo de sua leitura, é tida como algo repulsivo pelo simples fato de ser rebelde à ideologia cristã.
            Conforme já citado, comparadas pela teoria de Foucault, a produção dos dois autores atendem as regras necessárias para a eficácia de um discurso. Neste quesito, o trabalho de Padre Vieira é superior por contar também com elementos conceptistas, cuja função é criar na mente do leitor, por intermédio de um jogo de palavras, ideias lógicas que depois ficam impossíveis de serem negadas.


CONCLUSÃO

            Findado o trabalho, conclui-se que textos bem articulados, tais como O Sermão da Sexagésima e O Anticristo, conseguem validar os discursos de seus autores. Além de possuírem recursos de persuasão próprios do gênero nos quais foram redigidos, preenchem os requisitos de aceitabilidade de um discurso, previstos nos estudos de Foucault. De forma consciente ou não, discursistas que seguem as regras de Ritual, de Doutrina e de Sociedade de Discurso, são mais propícios à aceitação popular.
            Outra importante constatação depois de observado as teorias de Descartes é referente à incompetência de leitura crítica da maioria das pessoas. Poucos conseguem analisar friamente um texto, contextualizando com outros e, após isso, julgar ser verdadeiro ou falso. Por falta de preparo, estratégia e até mesmo experiência, grande parte dos leitores tendem a aceitar informações de tudo o que lêem e vêem na mídia.
            Devido a todos esses fatores, as obras aqui estudas permanecerão por muito tempo a influenciar milhares de pessoas que as lerem.









REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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URNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro - Porto Alegre: Editora Globo, 1972.

VIEIRA, Antônio. Sermão da Sexagésima. Belo Horizonte: Itatiaia Editora, 2005.

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