sábado, 10 de novembro de 2012

Resenha Crítica: Dom Quixote de La Mancha

                

                Resenha Crítica


Findada a leitura das duas obras das aventuras de Dom Quixote, fica fácil perceber porque ele foi considerado o melhor livro de todos os tempos, aclamado em um votação realizada no Clube do Livro da Noruega, onde participaram grandes autores e os maiores críticos literários da época. É um história envolvente, de fácil compreensão, que mesmo sendo muito extensa e composta de diversos capítulos, é bastante agradável de se ler, tendo em vista que é extremamente hilária por conter o apurado senso de humor de seu criador: Miguel de Cervantes.
          A história começa por mostrar Alonso Quijano, um fidalgo cinquentão, com a ideia fixa de se tornar um cavaleiro andante, enlouquecido após tantas leituras de novelas de cavaria. Muda seu nome para Dom Quixote de La Mancha, nomeia seu cavalo, um pobre pangaré, de Rocinante, institui, na sua mente, uma simples camponesa que poucas vezes viu de passagem em  fidalga, dando-lhe o nome de Dulcinéia Del Toboso, a quem acredita dever-lhe amor e prestações de honrados serviços e, depois de vestir uma velha armadura de guerra que pertenceu a seu bisavô, sai em busca de aventuras imaginárias.
          A primeira delas é referente ao seu batismo como cavaleiro. Ao chegar numa pousada onde havia algumas prostitutas, Quixote enxergou nessa situação um castelo, repleto de donzelas e um rei. Exigiu ser batizado como cavaleiro andante. Aproveitando-se da situação cômica e também com medo de serem agredidos pelo lunático que se dizia cavaleiro, de maneira teatral e engraçada, fizeram sua vontade.
          Em sua primeira aventura depois de batizado como cavaleiro andante, Dom Quixote é surrado e retorna para sua casa. Depois de se recuperar, convence um lavrador vizinho chamado Sancho Pança a ser seu fiel escudeiro, depois de lhe prometer uma ínsula para que ele a governasse. Formada a dupla, tem-se início a segunda saída do protagonista, onde as mais fantásticas e engraçadas aventuras da obra são vivenciadas, sendo as duas principais e mais conhecidas, por serem popularmente ligadas ao mito quixotesco, a luta de Dom Quixote contra o moinho de vento, que ele acreditava ser um poderoso gigante e depois a batalha contra o exército de carneiros, que ele acreditava ser um exército de mouros que invadiam o país. Esta última rendeu-lhe outra surra e, por ficar desfigurado e desdentado, o apelido de “ O Cavaleiro da Triste Figura”.
          E assim a dupla vai aventurando-se em diversas situações, conquistando derrotas e algumas vitórias. A última delas, por mais uma vez, terminou com Dom Quixote muito ferido, após levar uma baita paulada no ombro. Retornaram para sua aldeia, pondo fim na segunda saída do cavaleiro. O livro cita a morte do fidalgo, mas sua terceira saída e as aventuras nela vividas são narradas na continuação O Engenhoso Cavaleiro Dom Quixote de La Mancha.
          O que mais chama a atenção na obra é que ela, desde o momento de sua criação, mostrou-se contextualizada com todos os momentos importantes da história desde então. Sem dúvida nenhuma, tão alto grau de universalidade foi o que lhe rendeu o título de maior obra literária da história, reconhecendo Miguel de Cervantes como um dos maiores autores de todos os tempos, não só da Espanha, mas sim do mundo todo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Resenha Crítica: Fausto: Uma Tragédia - Parte I

Mais uma resenha... Agora é sobre a primeira parte da tragédia teatral Fausto, obra máxima da literatura alemã, que ocupou cerca de 60 anos da vida de Goethe para ser terminada.

Engraçada, complexa e bastante trágica, é superior a todos os textos de mesmo gênero devido a grandes possibilidades de interpretações e assuntos abordados, sem falar que é nela que o protagonista afirma-se como reconhecido mito literário.

Bom...boa leitura!





Resenha Crítica

            Logo de cara vê-se o porquê do trabalho que ocupou grande parte da vida de Goethe ser considerado uma das maiores obras-primas, não só da literatura alemã, como também da mundial. A primeira parte de Fausto: Uma Tragédia se mostra desde o início como um poema muito bem trabalhado e pensado, feito especialmente para ser encenado.
            Dotada de vários fatores filosóficos e extremamente complexa, a peça não é dividida em atos, mas em cenas, que são ambientadas em diversos cenários. Antes disso, acontecem três prólogos, sendo os dois primeiros Dedicatória e Prólogo do Teatro metarreflexões acerca o conteúdo e produção da obra, bem como uma discussão sobre a real função do teatro para com seus expectadores. O Prólogo do Céu, que vem a seguir, introduz o trama da história. Assim como no livro bíblico de Jó, há uma disputa espiritual entre o bem e o mal, tendo como alvo dessa disputa um homem. Deus acredita que Fausto é essencialmente bom. Pode cometer diversos erros no decorrer de sua vida, mas, no final dela, obterá a luz. Já Mefistófoles pensa o contrário. Por achá-lo mal feito e dividido entre seus instintos animais e racionais, afirma que o protagonista cairá em condenação. O Senhor então autoriza o demônio a conduzi-lo por seus caminhos para lhe provar o contrário. E assim tem-se início a peça em seu plano terreno.
            Fausto encontra-se em seu lar, próximo a cometer suicídio por considerar-se fracassado em obter o conhecimento ilimitado. Estudou todas as ciências possíveis (medicina, filosofia, jurisprudência e teologia) e até fez uso de magia para tal, mas não obteve sucesso. Com seu assistente Wagner, saiu a passeio pelas ruas da cidade, onde passou a ser seguido por um cão. De volta a sua casa, especificamente dentro de seu quarto de trabalho (estúdio), o cão aparece novamente e se metamorfoseia em Mefistófoles. Após discutirem sobre vários assuntos, o demônio lhe propõe o seguinte: fará todas as suas vontades na terra em troca de serviços de sua alma no inferno. Ele aceita, sob o caráter da seguinte aposta: que isso só ocorra a partir de um momento que lhe seja extremamente feliz, ao ponto dele querer que tal momento dure para sempre. Eles assinam um contrato com sangue e passam a andar pelo mundo.
            Após uma confusão que tiveram com estudantes bêbados numa taverna em Leipzig, os dois vão ter com uma bruxa. Dela, Fausto recebe uma porção que o torna mais jovem e belo. Mesmo perplexo e obcecado pela beleza de Helena de Tróia, que enxergou em um espelho mágico, os dois partem. No caminho, ele avista Margarida e de cara se apaixona por ela. Usando-se dos termos de seu contrato, exige de Mefistófoles que a consiga para ele. O diabo sabe que a tarefa será muito difícil devido a pureza e a devoção da moça aos dogmas cristãos. Com presentes e ajuda de Martha, a vizinha da pretendida, que desempenha na peça a função de alcoviteira, consegue um encontro no jardim entre os dois. Para que esse encontro se estendesse ao quarto de Gretchen (como a moça era carinhosamente chamada), o rapaz entrega a sua amada uma poção de sono para que dê a sua mãe. A poção “acidentalmente” a mata. Para piorar a situação, Margarida engravida. Revoltado com o ocorrido, Valentim, seu irmão, um hábil militar, desafia Fausto para um duelo de morte. É vencido e morto pelo protagonista, que teve, para isso, a ajuda de Mefisto.
            Para consolar seu protegido, que encontrava-se desolado por causa de Margarida, o demônio o leva a festa da Noite de Santa Valburga. Lá, bruxas e diversos tipos de criaturas das trevas celebram. Uma delas tenta inutilmente seduzir Fausto, que ao ficar sabendo da condenação à morte de sua amada, culpada por ter assassinado afogado o filho recém-nascido devido a tanto desespero e loucura, exige do diabo que o ajude a soltá-la. No cárcere, mesmo abrindo a cela em que ela se encontrava trancafiada, Gretchen nega fugir. Com pouco resquício de sanidade, mal consegue reconhecê-lo. Acredita que já não possui seu amor e por isso aceita seu destino. Se desespera ainda mais quando avista Mefisto, entregando-se a morte. O demônio a sentencia culpada, mas um coro angelical rebate afirmando que ela salvou-se, devido a sua pureza e inocência. E assim termina a primeira parte da obra.
Mesmo não conhecendo nada da língua alemã, vale destacar a excelente tradução para o português, feita por Jenny Klabin Segall. Percebe-se isso pela notas e comentários contidos no rodapé, feitos por Marcus Vinícius Mazzari, que apontam a todo momento o respeito que a tradutora teve em manter as rimas e estruturas do poema como um todo, bem como sua originalidade e genialidade.
Como opinião pessoal, afirmo ser esta a melhor obra teatral que já li. Mesmo possuindo uma complexa rede filosófica em sua formação, onde se chocam valores contrários, tais como religião, magia, alquimia, o bem o mal, assim como importantes fatores políticos que moldavam o mundo na época de sua construção, como por exemplo a Revolução Francesa e o início da Revolução Industrial, é fácil entender o seu enredo e identificar algumas questões que lhe conferem valor literário, sendo o principal delas a busca do homem em descobrir-se a si mesmo, respondendo suas dúvidas e anseios.

domingo, 14 de outubro de 2012

Amor Obsessivo

O texto a seguir foi escrito por Isabella, uma de minhas alunas do 9º ano.


Isso prova que ainda há muito potencial, imaginação e criatividade dentro das salas de aula das escolas públicas. Basta saber procurar e incentivar...



 Valeu, Isabella!



  
Amor Obsessivo



Num belo dia ensolarado, onde todas crianças corriam e brincavam de pega-pega, nadavam na piscina do Clube São Paulo para se refrescar, um jovem branquinho, de cabelos loiros e olhos verdes, chamado Pedro, fazia 17 anos. Sentado no banco da quadra de basquete, vendo seus amigos jogar, olhou para o lado e viu uma garota bem clarinha, de olhos castanhos e longos cabelos pretos.
Ele olhava-a admirado, quando seu amigo Carlos chegou perto e disse:
- Gostou?
- Muito...
- Vai lá então, cara! Fala com a menina!
- Vou falar o quê?
- Chama ela para sair ou tomar um sorvete na cantina do clube.
- Humm... Beleza. Vou lá!
Pedro chegou perto dela e perguntou:
- Como você se chama?
- Laura. – respondeu ela, assustada. - Por quê?
- Gostei de você e gostaria de saber se queria tomar um sorvete comigo.
- Desculpe-me, mas não posso.
- Por quê?
- Não trouxe dinheiro.
- Isso não é problema. Se eu chamei, eu pago! – insistiu ele.
- Bom... Assim eu topo.
- Daqui meia hora na cantina do salão.
- Ok. Estarei lá.
Eles despediram-se com um beijo no rosto.
Pedro voltou com um enorme sorriso estampado na cara. Chegou para Carlos e disse:
- Consegui! Vou encontrá-la na cantina para tomar um sorvete.
- Falei que ela não iria resistir. Conheço as mulheres! – riu Carlos.
No horário e local marcado encontraram-se. Enquanto saboreavam sorvete, Pedro de chocolate e ela de morango, ele parou, puxou a menina pelo braço e perguntou:
- Você aceita namorar comigo?
Surpresa com a atitude do rapaz, ela olhou para seus olhos verdes e secamente respondeu:
- Não.
- Por quê?
- Não posso. Tenho que ir embora!
- Então pelo menos me passa o número do seu telefone...
Após passar seu número, foi embora.
Pedro, totalmente apaixonado por Laura, não conseguia parar de pensar nela. Não comia e tampouco dormia direito.
Na semana seguinte, voltou ao clube. Estava um dia tão belo como aquele. Pegou seu celular e mandou uma mensagem para ela, dizendo tudo que sentia por ela e a queria ao seu lado. Novamente pediu:
“Quer namorar cmg?”
A resposta de Laura veio seca, novamente:
“Naum”.
Mas Pedro não desistiu e de cinco em cinco minutos mandava a mesma mensagem:
“Vc aceita namorar cmg?”
Mas ela não respondia mais.
Pedro ficou apavorado e, com um objeto pontiagudo que encontrou, se cortou, escrevendo “Laura” em seu braço. O corte começou a sangrar e doer muito. Desesperado, pulou na piscina, mas não conseguiu nadar por causa da dor. Então, morreu afogado e de amor.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Renha Crítica: Dom Juan - O Burlador de Sevilha e o Convidado de Pedra

Para quem acha que Dom Juan é um cara bonzinho, bonito, galanteador, por quem todas as mulheres se derretem, aqui vai a resenha da obra que deu origem ao mito presente em diversos filmes e clássicos da literatura mundial.


Resenha Crítica

Dom Juan Tenório é o protagonista da peça intitulada El Burlador de Sevilha y Convidado de Piedra, de  Tirso de Molina, pseudônimo de Frei Gabriel Telléz. Jovem, atraente, mulherengo e com uma lábia requintada, capaz de enganar facilmente as mulheres, logo no início da trama comete sua primeira burla. A vítima é Isabela, uma nobre da corte de Nápoles, que pretende-se casar-se com Otávio, um duque também napolitano. Aproveitando-se da pouca iluminação, Dom Juan finge ser seu pretendente para enganá-la. Após ser descoberto e aconselhado por  Dom Pedro, seu tio, foge para que não seja condenado à prisão. No caminho de volta para sua casa sofre um naufrágio. É resgatado por Tisbea, uma bela pescadora que, com seus cantos e atributos, tenta seduzi-lo. Porém, ocorre exatamente o contrário. Mesmo advertido por Cagarolão, seu lacaio, que insistia para que ele não enganasse mais as mulheres, pois acreditava que tal comportamento lhe daria um final trágico, Juan decide burlá-la. Depois de prometer casar-se com ela, além de ludibriá-la com as vantagens que o referido casório lhe trariam, Juan a leva para uma cabana, onde depois consuma sua vontade e foge para não cumprir suas promessas. Quando percebe que fora enganada, Tisbea chora amargamente e, junto de seus familiares, prometem vingar-se do burlador.
Em Sevilha, Dom Juan encontra-se com o Marquês da Mota, um velho amigo com quem vivenciou muitas experiências envolvendo mulheres. Depois de conversarem bastante, Mota lhe diz que está apaixonado pela prima, chamada Ana de Ulhoas. Confidenciou-lhe que ela já está noivada, mas, antes de casar-se, queria entregar-se a ele. Querendo aproveitar-se da situação, Juan propõe um desafio ao marquês que visava testar a fidelidade de Ana. De posse da capa do amigo, vai até o quarto de Ana com o intuito de passar-se por seu amado e burlá-la. Ela porém o reconhece e grita por socorro. Seu pai, Dom Gonçalo, aparece e desafia Dom Juan. Ele tenta negar, mas, mediante a insistência do velho, luta com ele, matando-o. Mais uma vez o protagonista foge, indo encontra-se com Marquês da Mota. Depois de contar-lhe todo o ocorrido, é sugerido que saia de Sevilha enquanto a situação é abafada. Na sequência, o nobre é preso e condenado à morte.
Juan e Cagarolão escapam para o campo. Chegam numa vila onde está acontecendo a festa de casamento de Batrício e Aminta, dois camponeses. São muito bem recebidos pela noiva e familiares, menos pelo noivo, que encara a presença de um nobre como algo que trará mau agouro. Pensando em cometer uma nova burla, que segundo sua opinião será a melhor delas, o burlador passa a seduzir a mulher, mesmo na presença de seu noivo. Quando não mais aguentava de ciúmes e sentindo-se desonrado, o camponês vai pedir satisfações ao galanteador, que o desafia. Não querendo confrontar-se com um nobre, acaba recusando. Com isso, Juan vai até Gasseno, pai da noiva, e diz que se casará com ela. Com a aprovação óbvia dele,  entra no quarto da bela camponesa que, após muitas juras do enganador, referentes a ele ser o atual noivo dela e não mais Batrício, torna-se mais uma de suas vítimas.
Já em casa, na hora do jantar, alguém bate a porta. Cagarolão atende e se depara com Dom Gonçalo, encarnado numa estátua fantasmagórica e, assim como os outros criados, foge de medo. Dom Juan convida a alma penada para jantar com ele. Além de aceitar, a estátua quer retribuir a gentileza em seu mausoléu e o protagonista acaba aceitando. Os dois aventureiros cumprem a promessa e vão jantar no recinto do morto. Depois de conversarem bastante, Dom Gonçalo diz que é chegada a hora do burlador ser penalizado por seus pecados. Juan tenta mostrar-se arrependido e alcançar o perdão, mas lhe é negado. Então a estátua, de mãos dadas com ele,  leva sua alma direto para o Inferno. Ao ver o corpo sem vida de seu amo, Cagarolão foge, encontrando pouco depois os demais personagens, que vinham, juntamente com o rei, penalizar seu finado senhor pelos atos que havia cometido. E assim termina a peça. 
   
Confirmando a ideologia dominante, o autor, com o final que atribuiu à peça, conferiu-lhe valores presentes no moralismo cristão. A condenação ao Inferno que o protagonista recebe provoca o efeito de catarse esperado em qualquer tragédia/tragicomédia da época. Assim sendo, o leitor/espectador sente-se confortado ao presenciar que de alguma forma houve justiça para as vítimas do galanteador.
No decorrer  da história Dom Juan engana quatro mulheres. Sequencialmente, suas burlas tornam-se cada vez “melhores” e mais difíceis de serem aplicadas. Segundo o próprio personagem afirma nos versos de número 1975 e 1976, a melhor delas seria realizada (e foi) em Aminta, sua quarta vítima. Assim como o número quatro simboliza a estabilidade e a perfeição, pode-se inferir que, a partir de sua quarta e última fraude, ele sentiu-se realizado por aplicar, segundo sua opinião, uma burla “perfeita”.
Nos versos de número 1310 ao de 1313, Juan deixa claro os motivos pelos quais engana as mulheres: pelo puro prazer que o ato lhe proporciona, além de desonrá-las socialmente. Seja simplesmente por má índole ou por oposição aos valores da época, principalmente em relação ao casamento, o personagem principal da peça não deixa de ser um vilão que se aproveita de sua condição social para saciar seu vício.
Mesmo assim, é compreensível o fato de Dom Juan ter virado um mito e ter sofrido ao longo da história várias adaptações. Tudo isso graças ao ego super complexo do protagonista, bem como outros elementos presentes na obra, como a sedução, o amor cortês e a vingança, por exemplo,  terem conferido ao El Burlador de Sevilha y Convidado de Piedra um caráter universal e digno de fazer parte do rol dos maiores clássicos da literatura mundial.