Oscar
Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854 na cidade de
Dublin, Irlanda. Criado numa família protestante, estudou na Portora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin, onde
sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para
o Magdalene College de Oxford. Wilde saiu de Oxford em
1878. Um pouco antes havia ganhado o prêmio "Newdigate" com o poema
"Ravenna".
Passou a morar em Londres e começou a ter uma vida social
bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes.
Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma
série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo,
ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como
antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo um dandi.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário
local, o que o leva a abandonar seu movimento estético. Volta para a Inglaterra
e casa-se com Constance Lloyd,
filha de um rico advogado de Dublin, indo morar em Chelsea, um bairro de
artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos.
Em 1895, após três julgamentos, Oscar foi condenado a
dois anos de prisão com trabalhos forçados, por cometer atos homossexuais. Após a condenação a vida mudou radicalmente e
o talentoso escritor viu, no cárcere, serem consumidas a saúde e a reputação.
No presídio, o autor de Salomé
(1893) produziu, entre outros escritos, De
Profundis, o clássico anarquista, A
alma do homem sob o socialismo e a célebre Balada do Cárcere de Reading.
Foi libertado em maio de 1895, vindo a morrer três anos
depois em 30 de novembro de 1900, na cidade de Paris, França.
Oscar
Wilde é considerado uns dos grandes nomes mundiais da literatura por ter
conseguido escrever em todas as formas de expressão, mesmo que não tenha se
destacado em algumas delas. Dentre os estilos, destaca-se suas novelas e
principalmente seu único romance: “ O Retrato de Dorian Gray”.
Na
poesia, Wilde encontrou uma forma para ampliar sua sensibilidade para as artes.
Um de seus poemas mais conhecidos é “Loucos e Santos”:
Loucos e Santos
Escolho
meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem
que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A
mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico
com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles
não quero resposta, quero meu avesso.
Que
me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para
isso, só sendo louco.
Quero
os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho
meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não
quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo
que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus
amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não
quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero
amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas
lutam para que a fantasia não desapareça.
Não
quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os
metade infância e outra metade velhice!
Crianças,
para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca
tenham pressa.
Tenho
amigos para saber quem eu sou.
Pois
os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me
esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Neste
poema, Oscar Wilde nos mostra seus sentimentos em relação a amizade.
Devido
sua vida agitada, regrada por boêmia, sem falar de sua preferência homossexual,
eram poucos os amigos verdadeiros; na verdade, eram poucas as pessoas que se
diziam amigas dele.
Loucos
e Santos mostra a indignação, e possivelmente a solidão e carência vivida por
Wilde. Nos dá a idéia de que o autor repudia sua atuais “amizades”, chamando-as
de falsas e pede amigos verdadeiros, capazes de o aceitaram do jeito que é, sem
fingimento, sem hipocrisia.
Apesar
do poema conter sempre idéias opostas, como por exemplo: loucos e santos,
alegria e sofrer, bobeira e seriedade, infância e velhice, entre outras, o
autor não opta por um amigo que contenha um desse determinados quesitos e
estereótipos, mas sim, que seu “pretendente a amigo” seja “versátil”,
apresentando todas essas características ao mesmo tempo, pois, só assim, essa
pessoa poderá compreende-lo e aceitá-lo verdadeiramente.
Várias frases chamam a atenção neste poema. A
primeira delas, muito impactante por sinal, é o seguinte trecho: “Deles não quero
resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que
há de pior em mim.”
Neste trecho, Oscar chama a atenção
mostrando que não lhe interessa somente uma amizade onde tudo é bom e perfeito,
mesmo porque ter amigos na hora em que predomina a alegria, onde se é bem
visto e quisto pela sociedade é fácil.
Ao contrário disso, o autor deseja amigos que aceitem-no como ele é, estando certo
ou errado, que os traga também suas angústias para que juntos possam suportá-la
e principalmente que o amem como amigo não pelas coisas belas que é e que faz,
mas sim, pelas piores e mais horríveis.
Segundo Wilde, as
únicas pessoas capazes de amá-lo segundo esses parâmetros, são os loucos.
Numa
outra parte do poema, o autor deseja que estas pessoas também sejam santas: “Quero
os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.”
Nesta
parte, Oscar diz que também é importante que a pessoa também tenha o
comportamento justo para com ele, mostrando que as diferenças entre
pessoa/comportamento existem e, sempre que houver algum erro ou injustiça, essa
pessoa seja capaz de se desculpar e também de perdoar.
Na
conclusão do poema, ele faz uma séria crítica à sociedade da época, mostrando
que não há como exigir um padrão de comportamento para as pessoas pois cada um
é diferente e essas diferenças devem ser respeitadas: “Pois os vendo loucos e
santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que
"normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.”
Mesmo
sempre ter sido alvo de críticas devido seu comportamento e preferências (sendo
até mesmo preso por isso), Oscar Wilde nunca deixou de dizer e escrever o que
pensava, muitas vezes respondendo as críticas que recebia. Loucos e Santos é um
perfeito exemplo disso. Além de idealizar como seria um amizade perfeita de
fato, nos mostra que ninguém deve ser tido como normal e padrão, pois no fundo,
ninguém o é. Há somente uma “máscara” que tenta passar essa idéia, porém,
segundo o autor, isso é apenas uma ilusão imbecil e estéril.
Nenhum comentário:
Postar um comentário