sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ensaio: Oscar Wilde


Oscar Fingal O’Flahertie Wills Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854 na cidade de Dublin, Irlanda. Criado numa família protestante, estudou na Portora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin, onde sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para o Magdalene College de Oxford. Wilde saiu de Oxford em 1878. Um pouco antes havia ganhado o prêmio "Newdigate" com o poema "Ravenna".
Passou a morar em Londres e começou a ter uma vida social bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes.
Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo, ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo um dandi.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário local, o que o leva a abandonar seu movimento estético. Volta para a Inglaterra e casa-se com Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin, indo morar em Chelsea, um bairro de artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos.
Em 1895, após três julgamentos, Oscar foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados, por cometer atos homossexuais.  Após a condenação a vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu, no cárcere, serem consumidas a saúde e a reputação. No presídio, o autor de Salomé (1893) produziu, entre outros escritos, De Profundis, o clássico anarquista, A alma do homem sob o socialismo e a célebre  Balada do Cárcere de Reading.
Foi libertado em maio de 1895, vindo a morrer três anos depois em 30 de novembro de 1900, na cidade de Paris, França.

Oscar Wilde é considerado uns dos grandes nomes mundiais da literatura por ter conseguido escrever em todas as formas de expressão, mesmo que não tenha se destacado em algumas delas. Dentre os estilos, destaca-se suas novelas e principalmente seu único romance: “ O Retrato de Dorian Gray”.
Na poesia, Wilde encontrou uma forma para ampliar sua sensibilidade para as artes. Um de seus poemas mais conhecidos é “Loucos e Santos”:

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.


Neste poema, Oscar Wilde nos mostra seus sentimentos em relação a amizade.
Devido sua vida agitada, regrada por boêmia, sem falar de sua preferência homossexual, eram poucos os amigos verdadeiros; na verdade, eram poucas as pessoas que se diziam amigas dele.
Loucos e Santos mostra a indignação, e possivelmente a solidão e carência vivida por Wilde. Nos dá a idéia de que o autor repudia sua atuais “amizades”, chamando-as de falsas e pede amigos verdadeiros, capazes de o aceitaram do jeito que é, sem fingimento, sem hipocrisia.

Apesar do poema conter sempre idéias opostas, como por exemplo: loucos e santos, alegria e sofrer, bobeira e seriedade, infância e velhice, entre outras, o autor não opta por um amigo que contenha um desse determinados quesitos e estereótipos, mas sim, que seu “pretendente a amigo” seja “versátil”, apresentando todas essas características ao mesmo tempo, pois, só assim, essa pessoa poderá compreende-lo e aceitá-lo verdadeiramente.

 Várias frases chamam a atenção neste poema. A primeira delas, muito impactante por sinal, é o seguinte trecho: “Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.”
          Neste trecho, Oscar chama a atenção mostrando que não lhe interessa somente uma amizade onde tudo é bom e perfeito, mesmo porque ter amigos na hora em que predomina a alegria, onde se é bem visto  e quisto pela sociedade é fácil. Ao contrário disso, o autor deseja amigos que aceitem-no como ele é, estando certo ou errado, que os traga também suas angústias para que juntos possam suportá-la e principalmente que o amem como amigo não pelas coisas belas que é e que faz, mas sim, pelas piores e mais horríveis.
Segundo Wilde, as únicas pessoas capazes de amá-lo segundo esses parâmetros, são os loucos.

Numa outra parte do poema, o autor deseja que estas pessoas também sejam santas: “Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.”
Nesta parte, Oscar diz que também é importante que a pessoa também tenha o comportamento justo para com ele, mostrando que as diferenças entre pessoa/comportamento existem e, sempre que houver algum erro ou injustiça, essa pessoa seja capaz de se desculpar e também de perdoar.

Na conclusão do poema, ele faz uma séria crítica à sociedade da época, mostrando que não há como exigir um padrão de comportamento para as pessoas pois cada um é diferente e essas diferenças devem ser respeitadas: “Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.”
Mesmo sempre ter sido alvo de críticas devido seu comportamento e preferências (sendo até mesmo preso por isso), Oscar Wilde nunca deixou de dizer e escrever o que pensava, muitas vezes respondendo as críticas que recebia. Loucos e Santos é um perfeito exemplo disso. Além de idealizar como seria um amizade perfeita de fato, nos mostra que ninguém deve ser tido como normal e padrão, pois no fundo, ninguém o é. Há somente uma “máscara” que tenta passar essa idéia, porém, segundo o autor, isso é apenas uma ilusão imbecil e estéril.

Nenhum comentário:

Postar um comentário